Escrever uma carta ao Pai Natal é uma coisa de criança?
Porquê?
E se, este Natal, escrevessem uma carta em família? A pedir aquilo que, em conjunto, decidirem que faz mais falta à vossa família, ao vosso bairro, à vossa localidade, ao vosso país, continente ou mundo?
Comecem por contar aos vossos filhos de onde surgiu a tradição de escrever cartas ao Pai Natal (mas sem estragar a magia àqueles que ainda acreditam): parece que São Nicolau foi, desde sempre, um homem generoso. Certa vez, sabendo das dificuldades por que passava um comerciante que tinha três filhas, Nicolau terá atirado para dentro de casa um saco com ouro e prata. O saco caiu junto à lareira, perto de umas meias que estavam a secar. Se é verdade ou apenas uma lenda, ninguém sabe ao certo, mas terá partido daí a tradição de colocar os presentes na lareira, e nela pendurar as tradicionais meias. Nicolau, entretanto arcebispo de Mira, na Turquia, tornou-se santo, e na Alemanha começou a ser usado como símbolo do Natal. Mais tarde, um anúncio da Coca-Cola popularizou a imagem de um velhinho de fato vermelho e branco, trenó e renas, talvez inspirado no famoso poema do século XIX de Clement Clark More, professor de literatura grega e línguas orientais de Nova Iorque, que o terá escrito para as filhas, num certo Natal (ver em baixo).
Para uns o Pai Natal vive no Polo Norte, para outros na Lapónia, para uns tem uma esposa (a Mãe Natal), para outros vive com os seus duendes e renas voadoras… mas independentemente de onde vive e com quem vive, tornou-se uma tradição, a partir do século passado, escrever-lhe uma carta a pedir a realização de alguns sonhos. Os Correios de vários países juntaram-se à iniciativa, e em Portugal os CTT têm inclusive o projeto “Pai Natal Solidário”, convidando famílias a apadrinhar os sonhos de crianças em risco.
Mas hoje a carta é de família e deverá refletir todos os sonhos, desejos, esperanças que habitam debaixo do vosso tecto. Talvez não sejam desejos que caibam na lareira, nem possam ser construídos por elfos. Por isso, desafiem também os vossos filhos a colocar-se na posição do Pai Natal e a pensar: como resolver estes desafios? Vamos ajudar o Pai Natal?
PS – Se os filhos já forem suficientemente crescidos para o entender, partilhem com eles a música “Carta ao Pai Natal” do Boss AC.
PSS 2 – E aqui fica o famoso poema de Clement Clark More:
Uma visita de São Nicolau
Era véspera de Natal e nada na casa se movia,
Nenhuma criatura, nem mesmo um camundongo;
As meias com cuidado foram penduradas na lareira,
Na esperança de que São Nicolau logo chegasse;
As crianças aconchegadas, quentinhas em suas fronhas,
Enquanto rosquinhas de natal dançavam em seus sonhos;
Mamãe com seu lenço e eu com meu gorro,
Há pouco acomodados para uma longa soneca de inverno;
Quando no jardim começou uma barulhada,
Eu pulei da cama para ver o que estava acontecendo.
Para fora da janela como um raio eu voei,
Abri as persianas e subi pela cortina.
A lua no colo da recém-caída neve,
Dava um lustro de meio-dia em tudo em que tocava,
Quando, para meus olhos curiosos, o que apareceu:
Um trenó miniatura, e oitos renas pequenininhas,
Com um motorista velhinho, tão alerta e muito ágil,
E eu soube, na mesma hora, que era São Nicolau.
Mais rápido que uma águia vinha pelo caminho,
E assobiava e gritava e as chamava pelo nome;
“Agora, Corredora! Agora, Dançarina! Agora, Empinadora e Raposa!
Venha, Cometa! Venha, Cupido! Venham, Trovão e Relâmpago!
Por cima da sacada! Para o topo do telhado!
Agora fora, depressa!
Fora todos, bem depressa!”
Como folhas revoltas antes do furacão,
Sem encontrar obstáculos, voaram para o céu,
Tão alto, acima do telhado voaram,
O trenó cheio de brinquedos e São Nicolau nele também.
E então num piscar de olhos, ouvi no telhado
O toque-toque e o arrastar dos casquinhos.
Como um desenho em minha cabeça, assim que virei
Descendo a chaminé São Nicolau vinha resoluto
Todo vestido de peles, da cabeça até os pés,
E com a roupa toda manchada de cinzas e carvão;
Um saco de brinquedos em suas costas,
Parecia um mascate ao abrir o saco.
Seus olhos – como brilhavam!
Suas alegres covinhas!
Suas bochechas rosas, seu nariz como uma cereja!
Sua boquinha sapeca curvada para cima como num arco,
A barba em seu queixo tão branca como a neve;
O cabo do cachimbo bem preso em seus dentes,
A fumaça envolvendo sua cabeça como uma guirlanda;
Tinha um rosto redondo e uma barriga grande,
Que sacudia, quando ele sorria, como uma tigela de geleia.
Era gordinho e fofo, um perfeito elfo velhinho e alegre,
E eu ri quando o vi, sem poder evitar;
Uma piscada de olhos e um aceno de cabeça,
Na hora me fizeram entender que eu nada tinha a temer;
Não disse uma só palavra, mas voltou direto ao seu trabalho,
E recheou todas as meias; então virou no pé,
E colocando o dedo ao lado do nariz,
Acenando com a cabeça, a chaminé escalou;
Pulou em seu trenó, ao seu time assobiou,
E para longe voaram, como pétalas de dente-de-leão.
Mas ainda o ouvi exclamar, enquanto ele desaparecia
“Feliz Natal a todos e para todos uma Boa Noite!”